Massacre na Madrugada

O Carrião vibra de boas ondas, estando na paz e na tranquilidade, mas em redor existem revoluções e guerras que aterrorizam as almas mais sensíveis.

Na passada semana a loucura manchou com o calor do fogo o sangue a madrugada em São Jorge.

O alarme foi dado pouco antes das sete da manhã. O fogo consumia um apartamento na Fé. O medo desta força ancestral, o pânico de que a fome das chamas se espalhassem na vizinhança, a insegurança de quem é impotente possivelmente encheu a rua de gritos, berros, gesticulações, velhas com o coração acelerado, cotas a fumarem o primeiro cigarro da manhã enquanto contemplavam as chamas. A salvação veio pronta e rápida, e nem meia hora demorou o debelar das chamas. A rua estreita impediu os pesados e largos camiões cisterna de se aproximarem da casa, mas o bom português com nada se atrapalha: escolheram um bombeiro mais voluntarioso e com uma grande capacidade bexigal, esperaram pelas 07:00h, hora em que os monhés abrem o seu estaminé, compraram cinco litrosas e um pastel de bacalhau no café ao lado, atestaram o soldado da paz com três litros de cerveja e ficaram com as outras para repartirem entre si enquanto curtiam o espectáculo à boa moda da tuga, depois içaram o moço para os telhados, e deixaram-no em piloto automático esvaziando a carga sobre as chamar.




Estando o fogo controlado, elevando-se apenas névoas de água fervida, ainda as emoções se rescaldavam sobre os quatro elementos (água, fogo, terra, madeira) outros dois se entrelaçavam (ar e sangue).

O ajuste de contas foi rápido e certeiro. O cobrador chegou a horas, sozinho, decidido, preparado, com alvo e argumentação escolhido, resolveu não deixar haver disputa. Olhou, chegou, matou, torturou, estraçalhou, e deixou o aviso onde o corpo caiu. Os outros pombos testemunharam cobardes, e agora o corpo se mantém no telhado, apodrecendo lentamente ao sol.